07/10/2013 às 10h20min - Atualizada em 07/10/2013 às 10h20min

Desastre ambiental: Lagoa de Parnaguá está morrendo

População desesperada assiste o trágico fim da lagoa

Portal Corrente; Fotos: Viviane Setragni

 

A população da cidade de Parnaguá, cidade situada no extremo sul do Piauí, passa por um momento de angústia e desolação. A Lagoa que leva o mesmo nome da cidade, Parnaguá, considerada a maior lagoa natural do Piauí e a terceira maior do nordeste,  símbolo da cidade e coração que faz pulsar a vida no município, está morrendo.

O jornalista, escritor, ambientalista e apresentador de televisão Alcide Filho, que apresenta o programa Incrível, da Rede Meio Norte, esteve durante todo o final de semana na cidade gravando imagens para um programa exclusivo sobre a situação da lagoa. O jornalista colheu depoimentos dos moradores e fez imagens que mostrarão ao mundo a nova realidade de uma cidade que vivia em função das águas que hoje não mais ali estão. “Esse programa será visto por mais de 2 milhões de pessoas. Temos que mostrar ao mundo as conseqüências da ação irresponsável do homem sobre os recursos naturais para juntos tentarmos encontrar uma solução”, afirmou Alcide.

De acordo com relatos de moradores, o fenômeno, que já poderia ser chamado de desastre ambiental, vinha  ocorrendo aos poucos ano a ano, tanto pela diminuição da quantidade de chuva quanto pela diminuição gradativa da quantidade de água que recebe dos rios que a abastecem, sendo os rios Corrente e Paraim os  mais importantes, rios estes que também passam por sérios  problemas ambientais. Mas em 2013, algo nunca antes visto, nem pelos moradores mais idosos do município, aconteceu – a lagoa está desaparecendo.

Numa paisagem estarrecedora, todos os dias pode-se ver o recuo de mais de 20 metros no seu tamanho, deixando o solo rachado à vista. O lodo que se formou às margens é tóxico, impossibilitando até os animais de saciarem sua sede. Arbustos impróprios para alimentação do gado se proliferaram no leito seco e animais que tentam chegar à água ficam presos no lodo e não raro são vistos mortos, encalhados na densa argila que circunda a lagoa. Garças são vistas procurando alimentos que já não existem mais. Barcos estão encalhados às suas margens, à espera de um milagre, assim como os pescadores que perderam sua fonte de renda.

Mas sem dúvida o maior prejuízo é para população que simplesmente ficou sem fonte de abastecimento d’água. A Agespisa, empresa responsável pelo serviço, colhia a água da lagoa para fornecer aos habitantes. Como alternativa, está perfurando poços artesianos, mas segundo os moradores, a empresa promete abastecimento somente a partir de 3 meses. “Até lá a chuva já voltou”, afirmam os moradores.

A bizarra novidade criou um novo fluxo na cidade, onde a vida das pessoas gira em torno da busca pela água. Poços estão sendo cavados nas residências dos que possuem mais recursos, enquanto os desfavorecidos buscam água com galões na cabeça e carrinhos de mão, carregados por homens, mulheres, crianças e idosos. 

A população da cidade afirma que o carro pipa que  faz o abastecimento das residências é insuficiente e de iniciativa própria cavaram um poço, numa área próxima ao leito da lagoa, e instalaram um motor, que fica ligado todos os dias a partir das 4h da manhã até às 18h, onde uma pessoa, voluntariamente, abastece os baldes e galões das centenas de pessoas que até lá se dirigem. “Cobramos uma taxa irrisória para contribuição na conta de luz”, conta o responsável. Já os que não podem nem mesmo pagar R$ 1 real por dia, cavam cacimbas, que na verdade são buracos, em áreas impróprias, onde a água barrenta e suja mina e ali mesmo buscam a água para seus afazeres diários.

Nos mais diversos depoimentos colhidos, várias causas foram apontadas por diferentes pessoas, desde as mais humildes até as mais intelectuais, para a atual situação, mas uma foi o denominador comum em todas:  o desmatamento das margens da lagoa e dos rios que a abastecem seriam a grande causadora do  desastre, demonstrando que o óbvio está visível a todos e que a tragédia poderia ter sido evitada.

Ao se realizar uma análise mais profunda, se constata que a situação da Lagoa de Parnaguá é na verdade um grito de socorro de todo um ecossistema em desequilíbrio. O Rio Corrente, assim como o Rio Paraim, que abastecem a lagoa, passam por uma situação semelhante, onde ano a ano o seu fluxo vem diminuindo, seu leito assoreando, demonstrando que algo está errado e que novos desastres ambientais estão a caminho. Ações efetivas precisam ser realizadas com urgência pelo poder público, em todas as esferas,   assim como a comunidade não pode continuar assistindo de braços cruzados a chegada de uma tragédia para começar a pensar em novas atitudes. Vale lembrar que a sociedade civil organizada tem voz suficiente para ser ouvida e poder para mudar o destino de uma história que, como esta, caminha para o pior desfecho. Vale lembrar, também, que recuperar um ecossistema é muito mais lento, demorado, custoso e perigoso do que lutar por preservar o que aí está.

 

Por Viviane Setragni

Agradecimento especial ao jornalista Alcide Filho

 


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